28 de outubro de 2009

20º Aniversário da EPME

Fundada em Outubro de 1989, no âmbito do programa de criação de Escolas Profissionais, então lançado pelos Ministérios da Educação e Emprego e Segurança Social, através do GETAP, e tendo como entidade promotora a Academia de Música de Espinho, a Escola Profissional de Música de Espinho (EPME) propôs-se desde o início possibilitar a formação aos jovens candidatos a músicos em duas áreas praticamente inexistentes no panorama do ensino da música em Portugal: a formação de instrumentistas de Orquestra e o estudo da Percussão. O objectivo é o de dar o contributo possível para diminuir o défice de músicos portugueses que possam integrar as orquestras nacionais.
Ao longo destas duas décadas, a EPME logrou obter resultados extremamente positivos que se podem aferir quer pelo já significativo número de diplomados que exercem actividade profissional como instrumentistas e/ou docentes, quer pela demonstração pública da actividade da Escola, materializada na apresentação de centenas de concertos, um pouco por todo o País e também no estrangeiro.
A sessão comemorativa contou com a presença de várias personalidades que deram o seu testemunho acerca da Escola e foi seguida por um concerto em que a Orquestra Clássica de Espinho, constituída por antigos e actuais alunos da EPME, acompanhou Pedro Burmester sob a direcção de Pedro Neves.
Transcreve-se o testemunho de um antigo aluno:
“Antes de mais gostaria de agradecer o privilégio de aqui estar para vos dirigir algumas palavras enquanto ex-aluno desta Instituição. Não o poderei fazer em nome de todos os alunos, por isso falarei apenas a partir do meu sentir, de saudade e alguma nostalgia.
Quando ainda esta semana aceitei o convite para hoje vos falar, fui invadido por uma estranha agitação... afinal, já daqui me afastei há alguns anos. Mas devo confessar que o maior choque aconteceu ontem, quando para ensaiar para o concerto de hoje, pisei este magnifico palco pela primeira vez...
Na minha mente, eu vinha para o ensaio da orquestra da minha escola, no entanto, esta já não é a minha escola e esta já não é a minha orquestra... Como vinha atrasado entrei sozinho... e na verdade, senti-me um estranho nesta fabulosa nova casa. Quase que me vi perdido nestes corredores... E ao chegar aqui abaixo, imaginei que esta magnifica sala, poderia estar numa outra cidade qualquer.
A minha escola era amarela, perto duma feira, onde, por baixo de frondosas árvores em tempos se venderem frutas... legumes... farturas... e agora existe apenas um feio tribunal... A minha escola tinha dois jardins... um jardim de infância e um jardim com árvores sempre verdes que davam flores de duas cores. Mas a escola estava mesmo velha... chovia na sala 2, a sala de convívio era no corredor, e o gabinete da Direcção era na cozinha. O tecto da cave era muito baixo, e só se podia estudar sentado... As aulas de instrumento eram no 2º andar e por cada uma das portas fechadas podia ouvir-se a música que por todo lado se fazia.
No Inverno, ter aulas na Garagem era um suplício!!! A única sala digna era o Salão mas nele apenas havia aulas de piano... violoncelo... alguns naipes... exames... e foi lá que fiz o meu recital de fim de curso. Para tomar café podíamos optar por ir ao outro lado da rua mas para ir às aulas de orquestra ou de percussão era mesmo necessário caminhar até à rua 22.
E durante todo o ensaio de ontem, por entre compassos mal contados, vi-me meio atordoado à procura de um sentido para hoje aqui estar e também de algo palpável que me devolvesse alguma identidade.
Por fim reparei com carinho, que apesar das cadeiras da orquestra já serem diferentes, algumas das estantes, ainda são as mesmas...
Mas foi ao jantar, que entre os colegas de curso e amigos, fui encontrar o tal sentido, na partilha das mais ou menos hilariantes memórias do tempo que passamos juntos, no relembrar dos nomes de uns e de outros, fossem eles professores ou alunos.
Fundamentalmente, na constatação da vivência que tivemos nesta escola, na constatação da partilha de valores e experiências que fizeram de nós uma verdadeira família. Que promoveram a confiança, a autonomia, a liberdade nas emoções e mesmo nas opiniões nem sempre unânimes... E, em contacto com realidades e saberes musicais e artísticos, nos preparam para receber o desconhecido e partir para conhecer o mundo que estava fora do portão do tal jardim...
Tal apenas foi possível, porque nessa escola existiram pessoas sérias que nos acompanharam para que humanamente, pedagogicamente e artisticamente, nós os alunos de então, não nos sentíssemos tão sozinhos na vida que para nós também ali começava a revelar-se.
Fico feliz por reparar que afinal, apenas a casa mudou, pois outros e alguns dos mesmos que há vinte anos um dia sonharam, continuam a acreditar, a arriscar, e a lutar pelo mesmo ideal humano, artístico e pedagógico, dirigido para os jovens que hoje cá estão confiados mas agora acolhidos neste grandioso edifício, que no meu tempo, era apenas um sonho e que hoje já se encontra construído.
Caros professores, muito obrigado por tudo,
Caros funcionários, muito obrigado por tudo,
Caros directores, muito obrigado por tudo,
Caros colegas e actuais alunos estamos de parabéns pela nossa escolha!”
Luís Norberto,
25-10-2009


























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